Deixo-vos com o meu último escrito, no blog matanzero.blogspot.com, sobre um tema que nos toca a todos.
"Não frequento cultos de qualquer espécie, nem vejo necessidade, sinceramente, de existir um elemento etéreo a que a Humanidade se tenha de agarrar para justificar o que, num dado momento histórico, ainda não tenha justificação.
Inicio com este comentário uma reflexão acerca do documentário de Emir Kusturica, “Maradona”. Não sou um crente – assumo -, mas quando se fala em Diego Armando Maradona confesso que me calo face à justificação do (metafisicamente?) inqualificável. Não acredito, mas se fosse legítimo existirem as religiões que quiséssemos, não faltariam deuses de quem esperar milagres, ou representações simbólicas que moldassem os nossos hábitos – Maradona, nesta lógica, já tem seguidores e merece-o!
Por exemplo, Picasso era divino - há todos os testamentos e evangelhos nas formas geométricas das suas cores que justifiquem uma peregrinação aos museus em que está representado, comprovando aos mais cépticos que existe um inferno em Guernica e que nos sentiríamos nas nuvens celestes junto às Demoiselles d’Avignon; com Dali temos um purgatório constante, numa queda inexorável para a infinita perdição, numa semi-humanidade em fusão com os sonhos (a que nos ligarão os sonhos?); ler Saramago tem algo de oração, como um refúgio para um imaginário que nos salva ou que nos castiga na nossa dimensionalidade de não-saber-ao-que-estamos.
Enfim, Diego Maradona é toda a Divina Comédia. Se há algo maior que Maradona, só Maradona. Vê-lo correr driblando adversários é como alcançar o cume dos Himalaias com Os Lusíadas a salvo – fazemos parte da história porque vimos aquilo a acontecer, mas não compreendemos imediatamente o seu significado – apenas sabemos o que sentimos, para jamais o esquecer. E vê-lo cair humano, ou arrastar-se infernal pelos cantos obscuros de uma solidão que é tão maior quanto maior a solidão de não o podermos ver.
Com Maradona tudo é possível. Até a loucura de sermos iguais, assim divinos. Porque só entre iguais há perdão. E todos perdoamos a Maradona não ter sido sempre Maradona - porque estamos a falar de Maradona. Não perdoaríamos a quem fosse vulgar, por não ser assim igual, assim divino.
Maradona faz-me acreditar, e sei-o porque sorrio e fico feliz. E esse é o seu milagre. Obrigado Diego, por isso! E obrigado Kusturica, por nos lembrares."
quarta-feira, 15 de abril de 2009
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1 comentário:
Te quiero Diego!
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